Quando Ceisa é repetidamente questionada, nos conta o que contou às Mães lá em cima; que haverá muitos estrangeiros na ilha em breve, que eles parecem assustadores e se vestem de preto. Ela não sabe por que eles vem até aqui, ou o que querem.
No caso de os estrangeiros virem até a nossa ilha por causa daquele que está ferido, não é como se soubessem que ele está aqui. Eles o estão procurando. Mesmo que eu não o tivesse escondido, eles ainda estariam aqui para procurá- lo. Não se tivessem encontrado o seu corpo boiando no mar...
...
Quando me viro para o estrangeiro, percebo que está acordado. O único olho bom está fixo em mim. Parece cansado e deve estar faminto... Isso não é mais da minha conta.
— Você precisa ir— digo, mas ele apenas me encara, e então começa a se sentar em meio aos lençóis improvisados.
Aponto para a entrada do esconderijo.
— Precisa ir!
Me afasto para pegar as suas roupas— que precisei tirar para ver o quão ferido estava—, e as coloco no chão ao lado dele, enquanto aponto de novo para a entrada do esconderijo com mais determinação.
— Vá!
..
— Kris- Den.
É o movimento que fiz antes para dizer o meu nome. Suspeito então que esse seja o seu nome. Ele aponta para o meu peito.
— Ta- Ri- Ssa.
A pronúncia não está nem próxima, mas faz o meu coração bater mais forte por nenhum motivo. Concordo com um aceno. Eu lhe disse o meu nome naquele momento ruim quando se sentia ameaçado e confuso e estava ardendo em febre... e ele se lembra.
...
Ele fugindo e ela também vai dar merda)
Posso sentir o estrangeiro alerta atrás de mim também, no entanto, quando para ao meu lado e olha adiante, tenho a impressão de que ele reconhece o som e não é algo bom. Nos entreolhamos. Não penso. Corro pela areia, indo para a Torre da Deusa. Não me importo que o estrangeiro veja para onde estou indo. Não me importo com nada. Só penso nas minhas Irmãs. Minhas Irmãs queridas que estão adormecidas lá em cima, indefesas.
Vejo Mãe Tyldi e Mãe Ruena caídas perto de um arbusto de flores de alis, de mãos dadas. Há sangue por toda parte. Muito sangue. Mais adiante vejo Mãe Darba numa posição estranha, encolhida como se sentisse dor, mas sua boca e seus olhos estão muito abertos num grito silencioso. Me sinto tremendo. Minha cabeça dói, o meu peito também. Os estrangeiros as feriram... as feriram... Por quê? Elas não eram uma ameaça. Não somos uma ameaça.
( pqp
Vou matá- lo como ele matou as minhas Mães...
Avanço em silêncio, como fazia ao caçar coelhos sem armadilhas, e salto, mas sou agarrada no ar e puxada para trás.
É o estrangeiro ferido. Ele cheira à camomila com que cobri os seus ferimentos, por isso reconheço- o sem precisar me virar. E me segura com força. Força demais. Estou sem fôlego. Me sinto esmagada. Ele me arrasta para detrás de uma pedra, longe dos outros estrangeiros.
Me debato, braços e pernas, mas ele é grande e muito mais forte do que eu. Não represento um desafio. Sou esmagada entre seus braços enormes. Vejo vultos escuros se aproximando. Gritos numa língua que não conheço. A escuridão me engole enquanto os meus pensamentos são inundados pelas visões das minhas Mães mortas, e a certeza de que minhas Irmãs serão as próximas e não poderei salvá- las.
( FALEI QUE IA DAR MERDAAA